terça-feira, 12 de julho de 2011

Uma longa caminhada


Com apenas 13 anos, viu a sua aldeia a ser destruída, foi-lhe entregue uma AK-47 e foi enviado para combate com outras crianças e soldados adultos.  Por mais de dois anos, matar era a sua actividade diária.

"Durante o dia, em vez de jogar à bola no largo, revezei os meus companheiros nos posto de vigia em redor na aldeia, a fumar marijuana e a snifar brown brown, cocaína misturada com pólvora(...) davam-me imensa energia. (...) à noite víamos filmes de guerra. Todos queríamos ser como o Rambo; mal podíamos esperar para pôr em prática as suas técnicas.
Continuámos a experimentar matar prisioneiros como o tenente fizera. Devíamos cortar-lhes as gargantas... segurávamos as baionetas na mão e tínhamos de olhar para a cara dos prisioneiros quando os matássemos. Não senti nada...agarrei na cabeça do homem e cortei-lhe o pescoço com um movimento fluído. A maçã-de-adão cedeu à lâmina... o tipo revirou os olhos. Deixei-o cair no chão e limpei a baioneta na roupa dele. Deixara de sentir piedade. A minha infância passara sem eu dar por isso e parecia que o meu coração se empedernira. Sabia que os dias e as noites chegavam e partiam... mas não fazia ideia se era domingo ou sexta-feira. Na minha cabeça a minha vida era normal. Tinha 15 anos."


É de leitura fácil e emocionante. Lembro-me que escolhi este livro para apresentar à minha turma na aula de Português. Em apenas 2 dias devorei-o e ao ler um excerto durante o meu momento de apresentação a minha voz falhou várias vezes... e as lágrimas teimaram em cair.  
Nas poucas pausas que fiz, as imagens no meu cérebro não me deixavam... sentia um aperto no coração por saber que tudo o que estava ali não era ficção, que não era uma invenção. Infelizmente esta é uma dura realidade e este livro reforçou ainda mais a minha teoria de agradecer por tudo que temos, agradecer de não termos de passar por situações horríveis como esta. 
Aconselho a ler o livro, pensar sobre o assunto, e a crescer como seres humanos! Uma grande lição de vida! 

«…Todos ficam felizes e apreciam a Lua à sua maneira. As crianças admiram as suas sombras e brincam ao luar, as pessoas juntam-se no largo a contar histórias e a dançar noite adentro. Muitas coisas felizes acontecem quando a Lua brilha. São essas algumas das razões por que devemos querer ser como a Lua.
..Decidi começar a observá-la. Todas as noites, sempre que a Lua aparecia no céu, deitava-me na rua e observava-a calmamente. Queria descobrir por que motivo era tão apelativa e agradável. Fiquei fascinado com as diferentes formas que via dentro da Lua…
Sempre que tenho agora uma oportunidade de observar a Lua, continuo a ver as mesmas imagens que via quando tinha seis anos, e agrada-me saber que essa parte da minha infância continua dentro de mim.»
[Uma longa caminhada- Memórias de um menino soldado – Ishmael Beah]

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